Final Original de Corra! era muito mais sombrio

“Corra!” não é apenas um filme de terror; é uma obra que desafia e confronta as complexidades do preconceito racial.

Corra!”, o influente filme de terror dirigido por Jordan Peele, deixou uma marca duradoura por meio de seus simbolismos profundos. Ao explorar os meandros do horror racial, Peele oferece uma visão perspicaz da América contemporânea, desafiando noções de igualdade e expondo o preconceito subjacente. O final impactante, embora tenha evoluído para uma conclusão mais positiva, inicialmente se inclinava para a escuridão. Descubra a seguir qual era o final original.

A Narrativa Original e o Final Sombrio

No primeiro esboço do roteiro, a reviravolta final de “Corra!” assumia contornos mais sombrios. As sirenes ao fundo, inicialmente, pertenciam a carros de polícia reais. Nessa versão, Chris acabava sendo preso pela polícia sob a acusação de assassinar a família Armitage.

Sem ninguém para acreditar em sua versão dos acontecimentos, Chris era aprisionado. Essa escolha narrativa adicionava uma camada mais sombria à história. E mais: destacava a vulnerabilidade de um homem negro diante de um sistema que muitas vezes o vê como culpado por padrão.

Jordan Peele, no entanto, decidiu ajustar o desfecho, proporcionando a Chris uma conclusão mais otimista. Esse ajuste ganha relevância quando contextualizado no cenário político da época. O filme foi lançado poucos meses após a eleição de Donald Trump. E a mudança no final pode ter sido uma forma de oferecer uma escapada ao público diante das tensões e do preconceito existente na vida real.

A Profundidade Metafórica do “Lugar Afundado”

Como em todos os filmes de Peele, “Corra!” transcende o gênero de horror, usando simbolismos para transmitir uma mensagem mais ampla. O “Lugar Afundado” torna-se uma metáfora poderosa para o preconceito subjacente que persiste até os dias de hoje. Ao retratar um espaço onde os protagonistas são aprisionados, impotentes e sem agência, Peele comenta sobre a forma como muitos liberais brancos veem a amizade com homens negros — como uma mercadoria para ser consumida, sem conceder a eles qualquer autonomia.

O filme serve como um lembrete contundente de que a história da América é profundamente enraizada no racismo, e qualquer progresso alcançado representa apenas uma fração do que ainda precisa ser conquistado. A sociedade “pós-racial” é desmascarada como um mito, tanto agora quanto quando o filme foi lançado. A noção de “igualdade”, conforme percebida por aqueles que se beneficiam da estrutura societal existente e por aqueles que sofrem sob ela, é, na verdade, uma falsa igualdade.

“Corra!” não é apenas um filme de terror; é uma obra que desafia e confronta as complexidades do preconceito racial. Seu final, embora tenha passado por uma transformação para oferecer um vislumbre de esperança, ainda carrega consigo as sombras da realidade. Ao desvendar os simbolismos entrelaçados na trama, percebemos que a narrativa de Peele é uma reflexão inquietante da sociedade, obrigando-nos a confrontar nossos próprios preconceitos e a buscar uma verdadeira igualdade.

Gostou do nosso conteúdo? Acompanhe-nos no Google News e não perca nenhuma notícia.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Você pode cancelar, se desejar. Aceitar