Omissões em Oppenheimer: Uma Questão de Ética, ou de Visão?

A recente biografia de Christopher Nolan, “Oppenheimer”, trouxe à tona um debate controverso sobre a decisão de não retratar os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki no filme. Embora esses eventos sejam intrinsecamente ligados à figura de J. Robert Oppenheimer – o protagonista do filme e a mente por trás da bomba atômica – há a omissão dos mesmos na narrativa. Isso levanta várias questões sobre a responsabilidade ética dos cineastas ao retratar eventos históricos e como essas escolhas afetam a interpretação. E o principal: o entendimento do público.

Controvérsias do Filme Oppenheimer

Desde o lançamento de “Oppenheimer”, críticos e público dividiram opiniões sobre a exclusão dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki da narrativa do filme. A ausência desses eventos, que resultaram na morte de entre 150.000 e 200.000 civis em 1945, causou surpresa em muitos espectadores. Ainda mais, devido a importância de Oppenheimer no desenvolvimento da arma que causou tais danos.

Alguns argumentam que as vítimas japonesas da invenção de Oppenheimer deveriam ter recebido voz na história do filme. Por outro lado, há quem acredite que retratar os personagens japoneses apenas através dos bombardeios seria uma exploração insensível do seu trágico destino.

O Olhar de Nolan

Christopher Nolan justificou a omissão ao Indiewire, explicando que sua intenção era contar a história a partir da perspectiva de Oppenheimer. Segundo ele, o cientista só tomou consciência do impacto real da bomba após o fato, através do rádio, como o restante do mundo. Portanto, a objeção moral de Oppenheimer só aconteceu postumamente.

Nolan também expressou que queria manter a história do cientista palpável e ancorada na realidade. A inclusão de cenas gráficas retratando a morte de inúmeros civis japoneses sem explorar suas vidas e sonhos, poderia transformar o filme em um espetáculo insensível.

As Críticas São Compreensíveis – Mas Eram Inevitáveis?

As críticas a “Oppenheimer” são compreensíveis, especialmente considerando que o filme retrata a vida do homem que criou uma arma que causou uma tragédia na história do Japão. Bem como, uma mancha na reputação internacional dos Estados Unidos.

No entanto, Nolan parece ter estado em uma situação delicada – qualquer que fosse a decisão tomada, críticas poderiam surgir. Ignorar os bombardeios poderia ser interpretado como uma tentativa de suavizar a história. Já a inclusão desses eventos poderia parecer uma exploração insensível de uma das maiores atrocidades da história humana.

“Oppenheimer” e a Questão da Justiça

A representação autêntica dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki exigiria um foco narrativo. E o principal: um tempo de tela que “Oppenheimer”, como biografia, talvez não pudesse fornecer de forma adequada. A recriação desses eventos, sob o ponto de vista de Oppenheimer, significaria contar a história de homens americanos poderosos que facilitaram o extermínio de 200.000 civis japoneses sem nunca encontrar um japonês durante todo esse processo.

E incluir outra sequência de bomba atômica envolvendo a morte de centenas de milhares de civis poderia transformar-se em mero espetáculo. A menos, é claro, que o filme também se concentrasse nas vítimas da bomba, o que alteraria sua premissa original.

Conclusão

Por mais que os impactos da invenção da bomba atômica tenham sido explorados de maneira bem-sucedida por diversos artistas ao longo das décadas, a tentativa de Nolan de lidar com a enormidade dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki em “Oppenheimer” talvez estivesse destinada a falhar, a menos que a premissa do filme fosse fundamentalmente alterada.

A decisão de Nolan de omitir esses eventos pode ser um gesto de prudência ou uma limitação da visão do filme. Em última análise, a controvérsia em torno de “Oppenheimer” destaca as complexidades éticas e narrativas de representar eventos históricos traumáticos no cinema.

Gostou do nosso conteúdo? Acompanhe-nos no Google News e não perca nenhuma notícia.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Você pode cancelar, se desejar. Aceitar