Crítica sobre Imperdoável da Netflix: Até onde você é capaz de ir por amor?

Antes de mais nada, atenção, CONTÉM SPOILERS. Em uma cultura como a do Brasil, em que se dissemina a ideia de que “bandido bom, é bandido morto”, o filme “Imperdoável” da Netflix, não deve agradar muito. Em seu enredo, vemos Sandra Bullock, dando vida à Ruth Slater, uma mulher que passou 20 anos presa pelo assassinato de um xerife de Snohomish.

Já saiu a lista de lançamentos da Netflix em janeiro de 2022.

Devido ao bom comportamento, Ruth saiu mais cedo da cadeia, e isso desencadeou a ira nos irmãos Steve e Kevin, filhos do xerife. Devido ao assassinato, a mãe dos meninos entrou em depressão, e nunca mais saiu dele – vivendo praticamente em estado vegetativo. Por conta disso, eles ficam obcecados por vingança e uma forma de honrar o seu pai.

E assim, Imperdoável retrata a vida de Ruth, tentando se reerguer, em busca do paradeiro de Kate, sua irmã mais nova. Na ocasião do homicídio, Kate tinha apenas 5 anos. Com uma trama cheia de altos e baixos, Ruth sente nas contas o peso de ser uma ex-presidiária, e para piorar, assassina de um policial. Porém, a história nos mostra um fato que pode mudar toda a história, ou nossa maneira de enxergar Ruth.

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Imperdoável: Sandra Bullock vive ex-presidiária

Em suma, o título do filme Imperdoável, parece dar uma resposta. Entretanto, o filme questiona se a nossa sociedade está disposta a estender a mão para aqueles que em algum momento, cometeram erros no passado, mas já pagaram de forma legal por isso. E aqui me pergunto: quem somos nós para julgar alguém?

Tendo em vista que todos cometemos erros, dos menores aos maiores, ver Ruth em busca de um recomeço, de respostas, de uma vida honesta, e cheia de hostilidades, podem comover o telespectador, ou não.

No nascimento de Kate, a mãe de Ruth faleceu. E assim, Ruth criou a sua irmã mais nova, junto do pai. Entretanto, o pai de Ruth cometeu suicídio e a partir disso, a vida das duas vira do avesso. O xerife, juntamente da polícia, vão até a casa, para despejar as duas. E ai, Ruth ameaça matar quem adentrar na casa. E é assim, que o desastre acontece: o xerife é morto.

Saída da prisão

Após 20 anos de pena, Ruth sai da cadeia, e tem como objetivo reencontrar a sua irmã Kate. Entretanto, o caminho para isso se mostra complicado, e muito pior do que imaginava. Em suma, uma das regras da sua condicional, é não se aproximar da sua irmã.

Kate, por sua vez, é uma jovem de 25 anos, que não tem memórias concretas sobre o que aconteceu, apenas flashs vem a sua mente. Ela não consegue dormir, é dependente de medicamentos, e seus pais adotivos fazem de tudo para o seu bem, inclusive, esconder a verdade de Kate, e as cartas de Ruth.

Ao viver na pele, mesmo que na ficção, o que é ser uma ex-presidiária, Sandra Bullock relata a sua experiência:

“Eu falei com pessoas encarceradas, pessoas que já haviam cumprido suas penas e estavam tentando se reintegrar à sociedade, e foi difícil. Foi difícil principalmente porque eu senti que há uma grande diferença entre homens e mulheres que estiveram presos. Há muito menos oportunidades para as mulheres quando elas deixam a cadeia. É como se elas simplesmente não existissem. Perceber isso foi incrivelmente duro. Muitas dessas mulheres se conformaram com o fato de que são invisíveis. É de quebrar o coração, porque muitas nascem em circunstâncias que já dizem para elas que elas não existem. Absorver isso, imaginar como é e trabalhar todos os sentimentos que vêm disso, foi difícil.”

Imperdoável tem tons mais escuros e retrata o drama de Ruth

Durante todo o enredo, vemos Sandra Bullock totalmente diferente do que costumamos ver. Ela aparece de moletom, sem sorrir, sempre com o semblante fechado e abatido. O filme coloca Ruth em diversas cenas difíceis, nas quais inclusive, é humilhada. A discriminação por ser uma ex-presidiária, e para piorar, assassina de um homem de farda, torna as coisas ainda mais complicadas.

Para se manter, Ruth arruma dois empregos: em um, corta peixes em uma fábrica, e em outros, trabalha com madeira na construção de um abrigo de sem-tetos. Ao visitar a sua antiga casa, onde morou com a irmã, e o crime aconteceu, Ruth conehce o casal Ingram. Inclusive, o homem é advogado.

E assim, com sorte, Ruth convence o advogado a ajudá-la a encontrar a sua irmã, pelos meios legais, enquanto os dois filhos do xerife, pensam em como se vingar. De acordo com a diretora de Imperdoável, Nora Fingscheidt:

“Em seu cerne, o filme pergunta às pessoas justamente se aquela mulher deveria ter uma segunda chance. Não é como se ele forçasse o público a amar a Ruth, mas definitivamente nós queremos que a vejam como um ser humano. Espero que as pessoas peguem essa mensagem, que percebam que há sempre uma história por trás de um crime. Há uma infância antes de chegar à vida adulta”.

Segunda chance

O filme Imperdoável fala de segunda chance. Inclusive, Bullock cita que a sua personagem busca a liberdade, entretanto a vive em uma forma ambígua. Ou seja, ela consegue a liberdade, mas parece que nunca de forma completa. O peso de ter vivido na cadeia vai assombrá-la pelo resto da vida.

De acordo com Bullock,

“Para a Ruth essa ideia de segunda chance é um tanto agridoce, então eu acho que o filme é mais sobre perdão e julgamento do que qualquer outra coisa. Não dá para julgarmos uma pessoa com base nas nossas próprias experiências, aquela pessoa não viveu a mesma vida que você. A grande questão é: ela pode ser perdoada? Como na vida real, para algumas pessoas, sim. Para outras, vai ser mais difícil. E para outras, não.”

O filme desperta sentimentos ambíguos em seus telespectadores, e particularmente, posso falar que fiquei comovida com o desfecho da história. A diretora soube retratar muito bem, o drama que vive uma pessoa que sai da cadeia, e o quanto, muitas vezes as pessoas se sacrificam por amor. E aqui, fica a pergunta: Até onde você é capaz de ir, em nome do amor? Pois bem, Ruth foi longe, muito longe, para um caminho sem volta. Sabe o por quê? Não deixe de assistir ao filme para saber.